quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Alice - Lewis Carroll x Tim Burton

Aqui vão minhas observações do Word sobre o filme de Alice de Tim Burton em relação à história de Lewis Carroll. São apenas palpites... e talvez me sirvam p/ algo num trabalho da faculdade! Se alguém quiser ler, palpitar, à vontade...rs

Rainha Vermelha: A Rainha Vermelha de Tim Burton é uma mistura da Rainha de Copas e da Rainha Vermelha de Carroll (Alice’s Adventures in Wondeland/ Through the Looking-Glass). Suas ações são mais próximas às da rainha de copas (do primeiro livro das aventuras de Alice), como, por exemplo, o seu hábito de ordenar que cortem a cabeça das pessoas. A rainha de copas de Carroll, no entanto, não realiza de fato as suas maldades, pois ficamos sabendo que as pessoas que ela condenava à morte nunca eram executadas, o que a difere da rainha vermelha de Tim Burton, que era realmente ruim: graças a ela, Underland, como é chamada no filme, estava em ruínas. A rainha vermelha de Carroll e a de Tim Burton se assemelham no nome apenas, já que a primeira existia como uma peça de um jogo de xadrez e a segunda não. O filme de Tim Burton não faz menção a jogadas de xadrez, como faz o segundo livro das aventuras de Alice.

Rainha Branca: A Rainha Branca é delicada, bonita e jovem, no filme de Tim Burton. Diferentemente, a Rainha Branca de Carroll é mais velha, mal-vestida e distraída.

Rainha Vermelha e Rainha Branca: Na obra de Lewis Carroll, a Rainha Vermelha e a Rainha Branca existem como peças de xadrez, e suas cores simbolizam as cores de dois times opostos no jogo. Embora, é claro, elas sejam peças inimigas pelo jogo em si, a Rainha Branca e a Rainha Vermelha não agem como inimigas em Through the Looking-Glass. Já na adaptação para o cinema de Tim Burton, as Rainhas Branca e Vermelha, além de serem irmãs (muito diferentes por sinal), são inimigas, sendo a Rainha Branca boa e a Rainha Vermelha má.

O bem e o mal: Diferentemente da maioria das histórias infantis da época, as histórias de Alice de Lewis Carroll não se preocupavam em transmitir boa moral. Não há a presença do bem e do mal, como dicotomias estritas, nas histórias de Alice, prevalecendo, sempre, o nonsense. A adaptação de Tim Burton separou claramente o bem do mal, como totalmente opostos; no final, como obviamente esperado e comum, o bem vence, destruindo o mal. Até os filmes do Shrek quebram mais com a expectativa!

Sonho ou realidade? As duas aventuras de Alice de Lewis Carroll se passam durante o sono de Alice, embora a entrada para o mundo dos sonhos seja sutil em ambas. Carroll não explicita que Alice adormeceu, mas insere fatos do sonho no mundo real. No primeiro livro, Alice segue o coelho branco (de colete e relógio!) até sua toca; na sequência, Alice atravessa o espelho. Só no final das histórias é que sabemos, mais claramente, que tudo não passou de um sonho, pois Carroll explicita o acordar de Alice. Tim Burton subverte essa realidade e faz com que Alice descubra, depois de muitos anos, que tudo era, na verdade, real e não apenas sonho.

Coerência: Os habitantes de Underland de Tim Burton agem com certa coerência; a história segue uma sequência lógica de acontecimentos, para ter o desfecho anunciado no início: a luta de Alice e o monstro Jabberwocky. Nas histórias de Alice de Lewis Carroll, não há sequências lógicas e poucas vezes é obedecida a lei da causa e da conseqüência; os fatos vão apenas se misturando, os lugares se transformando... Há sentido nessa escolha se considerarmos que as duas sequências de aventuras que Alice de Carroll supunha reais são, na verdade, sonhos, enquanto a história de Tim Burton mostra justamente o contrário: o que Alice supunha ter sido seu sonho durante longo tempo de sua vida era, na verdade, real o tempo todo. Por isso, talvez, a história de Tim Burton obedeça mais a uma coerência, já que é “real”.

Chapeleiro Maluco: Até o Chapeleiro Maluco não é lá muito maluco nessa nova adaptação de Tim Burton. Ele está muito mais preocupado em salvar seu mundo do que com seu chá interminável que, aliás, termina bem rápido nesse filme. Além de ele estar muito politicamente engajado, ele mostra um carinho muito especial por Alice: ele tem certeza que ela é a Alice certa, ele a protege várias vezes e, no final, ele pede para que ela fique morando em Underland. O Chapeleiro Maluco de Carroll é realmente maluco, não tem ligação afetiva alguma com Alice e, ao que parece, não tem ligação afetiva com nada além de sua xícara de chá e de seu pão com manteiga! O único personagem das aventuras de Alice que é mais educado, atencioso e mostra se importar com ela é o Cavaleiro Branco (da sequência Throgh the Looking-Glass). Por esse motivo, ele é, inclusive, em análises, comparado com autor Lewis Carroll, pois simboliza seu afeto por Alice e seu tom melancólico ao se despedir dela que, na história, vira rainha e, na vida real, cresce. P.S. A dancinha do Chapeleiro Maluco, quando o monstro Jaberwocky é destruído e a rainha destronada, é bem boba e sem gracinha, assim como o fato de Alice arrancar a cabeça do monstro com a espada. Infantilizou bem!

Pontos positivos:

O pai: o pai de Alice não é mencionado nas histórias de Carroll, tampouco a mãe. A única parente mencionada na história é sua irmã, que ocupa papel pequeno. Achei interessante a idéia de dar um pai sonhador à Alice e explicar, assim, a origem de seus sonhos malucos.

A volta de Alice a Wonderland/Underland: Muito criativa a idéia de fazer com que Alice, agora mulher, retorne ao mundo de seus sonhos infantis. Adorei a parte em que os personagens de Wonderland se perguntavam se ela era a verdadeira Alice, quando ela cometeu os mesmos erros para passar pela porta, no início da história.

Jabberwocky: Interessante a idéia de fazer com que o famoso poema nonsense “Jabberwocky” fosse encenado na história. Os livros de Carroll mostram muitos poemas infantis, comuns à época vitoriana, sendo, de fato, vividos nas histórias de Alice (como nos capítulos “Tweedle-dum and Tweedle-dee”, “The Lion and the Unicorn” e “Humpty-Dumpty”). Tim Burton usou do mesmo processo, ao utilizar um consagrado poema (de Carroll!) e fazer com que os acontecimentos nele descritos fossem vividos em sua história. Só não precisava ter feito a menina descabeçar o monstro daquele jeito no final!!!!


A imagem ficou meio ruim, mas é o Jabberwocky dos livros de Alice (John Tenniel é o desenhista) e o Jabberwocky de Tim Burton.
Que fique claro, a melhor adaptação de Alice, na minha opinião, é o filme da Disney de 1951! AMO! :)

É isso...